A criança ”problema” é o reflexo
de um ”problema” familiar
A criança e a dinâmica familiar.
Qual a relação? Há realmente uma relação? Não é de hoje que percebo a relação
direta entre esses dois fatores, mas foi relativamente há pouco tempo que
comecei a me interessar em escrever sobre o assunto.
Trabalho com crianças há alguns
bons anos e em cada momento da vida parti de uma percepção profissional
diferente. Seja através do olhar da Educação ou da Psicologia, algo nunca se
modificou, e a comprovação em pesquisas e teorias já existe há tempos: a
importância da família!
A família é a base, é o alicerce,
é onde aprende-se regras básicas de higiene, convívio, educação, respeito e
amor. Na escola as crianças aperfeiçoam esses e outros pontos importantes da
vida diária, mas o foco é a aprendizagem e a aquisição de conhecimentos e
conteúdos escolares.
Infelizmente, com o mundo e a
rotina cada vez mais corridos, a criança acaba entrando muito nova na escola.
Muitas aos 6 meses já estão na creche, e essa se encarrega de educá-la
juntamente com a família.
Comecei falando de educação
porque ela é o que permeia a maior parte da vida da criança, mas o foco não é
esse. O foco é a dinâmica familiar! Quero que deixem suas mentes abertas, a fim
de compreender de forma abrangente o tema proposto. Aqui não é um espaço de
críticas, mas de reflexão.
Para tal, preciso citar a típica
situação da “criança-problema”. Quem nunca presenciou uma criança fazendo
birra, malcriação, e até mesmo sendo agressiva com alguém? E quando esse
comportamento é com os pais? Temos a tendência imediata de julgar a criança
como mal educada, ou os pais como negligentes.
Primeiro devemos excluir qualquer
pré-conceito que tenhamos sobre o outro e sobre nós mesmos, para analisar as
situações de forma neutra. Depois, claro, descartar transtornos psicológicos que
influenciem diretamente no comportamento da criança, e então partirmos para a dinâmica familiar.
Ao longo dos anos as famílias
mudaram bastante, não só em sua constituição, mas também nos papéis de cada
membro e na dinâmica da relação entre eles. E é essa dinâmica que diz respeito à educação que a família dá e em
como pais e filhos se relacionam. Ela é importante para que se estabeleça
um ambiente familiar saudável e equilibrado. Sem esquecer que a qualidade é
mais importante que a quantidade, e carinho vale mais que brinquedo.
Vamos pensar numa criança que não
respeita regras e não obedece os adultos. Não precisamos ir muito longe para
encontrarmos uma criança assim. E também não precisamos usar exemplos muito
“enfeitados” para chegar ao entendimento necessário. A criança em questão é
criticada e julgada pela escola, por vizinhos e amigos da família. Quando chega
a um consultório de psicologia, só se fala no comportamento ruim dela. E qual a
nossa tarefa inicial enquanto psicólogos? Ouvir essa família.
Na escuta percebemos o que já
imaginávamos: não é um caso isolado, e a criança não é “o problema”. A criança é o reflexo da família, um
sintoma da dinâmica familiar. Se algo não vai bem, ela com certeza será a mais
atingida, a que mais manifestará sintomas de que há algo errado. Sendo
assim, não existe apenas um “culpado”, mas sim todo um conjunto de fatores que
resultam nesse comportamento.
É interessante ver que a família
muitas vezes não aceita que tudo é uma questão de fazer mudanças, alterações na
rotina. Geralmente querem um diagnóstico, porque assim acreditam ser mais fácil
e não precisam lidar com o fracasso… Ledo engano! O diagnóstico infelizmente
nem sempre é feito da maneira mais correta e responsável. E através dele vem
toda a carga de rótulos que essa criança terá que carregar para toda a vida,
fora as medicações exageradamente receitadas.
Não sou contra medicação, nem
diagnóstico. Mas acredito que não sejam necessariamente a solução. Percebo em
minha prática que alguns diagnósticos inclusive acomodam familiares de forma a
“abandonar” a criança, pois ela é “isso ou aquilo”. Mesmo dentro de um
diagnóstico, as crianças podem e devem ter suas capacidades exploradas e
valorizadas pela família.
Então uma criança, seja típica ou
com algum transtorno, precisa de regras. Os combinados usados em sala de aula
são super indicados para a família. Eles funcionam muito bem, e podem ser
montados de acordo com a rotina de cada um, desde tarefas até comportamentos
combinados (daí o nome) entre os membros da família. Vale lembrar que essas
regras devem ser claras e únicas. Afinal, se cada familiar lida com elas da
maneira que bem entende, a criança tenderá a não respeitá-las mais e/ou até
mesmo usá-las a seu favor.
Se não está funcionando, precisa
de ajustes. E não adianta pensar que somente levar a criança ao psicólogo vai
adiantar. Pode melhorar muito, é claro, mas não vai resolver 100%. Não é
milagre. E esse é o maior indício de que a criança não é exatamente o problema…
É preciso empenho de toda a família. Principalmente quando nesta há indivíduos
que também precisam de psicoterapia e não o fazem.
Por isso famílias, tentem um olhar mais sereno, justo e acolhedor para
com as suas crianças. Tirem delas a culpa e o peso de existirem e não atenderem
às suas expectativas. Esse é o primeiro passo para o caminho saudável que vocês
tanto desejam.
Corujices da Psi
By Samira Oliveira
Origem: http://www.psiconlinews.com/2017/03/a-crianca-problema-e-o-reflexo-de-um-problema-familiar.html